24.7.13

rusticana (partículas de uma fibra óptica)

e o mar cantava dentro dos búzios com o peito todo
"não era o mar, era o sangue reverberando pelo búzio
adentro, era o som do sangue movendo-se por detrás
dos ouvidos, dentro do crâneo" era o sangue no
búzio repercutindo, um oceano escarlate movendo-se
com a lua e ademais caprichos, fechado no labirinto
do corpo, afinal; o mar uivava no búzio com o peito
todo, na praia o sol desaparecia atrás das cabeças das
mulheres de leste, que ficavam até mais tarde, nuas,
doiradas, as mamas redondas a caber em tantas mãos
hipotéticas (nas minhas, pequenas, tão não de homem),
a cabeça comia-lhes o sol pelo cabelo doirado e quando
abriam as bocas na escuridão os búzios repercutiam
o sangue, tinham mapas de esmalte e de neve no lugar
dos dentes, o mar cantava, gritava num desalento. por
que me nascem dentes do chão do corpo? abriam a
boca e iluminavam, esperavam numa ombreira de uma
porta hipotética, nuas, as mãos que lhes agarrassem
as mamas e a saliva que lhes corresse pelas costas
- pelo crâneo, como um mar de espuma e de sangue
e de esmalte. o chão do corpo era fértil mas apenas
para o cultivo de dentes, de mapas, de búzios.

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