10.2.14

já é dia dez

deixas o teu poeta preferido morrer à fome porque o que
a alma come não alimenta o estômago ou os intestinos. e
falas aos teus amigos do teu poeta, é fácil imaginar só
a sua vida à distância, a percepção, os arquétipos,
guardar o poeta neles todos, calcular os seus passos,
os escarros de muco à noite e de manhã, as pernas
magras e a barriga de cerveja. mas ao poeta interessa-lhe
comer, interessa-lhe ter leite fresco, laranjas num saco,
das doces. interessa-lhe que a solidão passe, que a luz
não falte quando a tempestade abala os postes eléctricos.

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