15.7.14

zoologia

ouçamos os pavões caindo do tecto no chão da sala,
sobre o tapete, partindo os pescoços, cantando,
morrendo. ouçamo-los quebrando nozes com os
bicos, quando é o tempo, os crâneos esmagados
por automóveis na praça, como os crâneos esmagados
por cascos de cavalos, nos sonhos de infância, os
olhos vítreos só já lugares para moscas e pó e formigas
e derrames sanguineos dizendo "no sopé dos montes,
onde o vento é rejeitado pelos muros de pedra e terra,
as janelas não fecham e ouve-se o mar aqui fechado
dentro, como uma alma penada, como alguém que
preferiu ficar em vez de aceitar que se morre"

os pavões cantando, morrendo, caindo do tecto
como insectos mal se instala o verão e o calor no
sopé das montanhas, nas casas caindo de humidade
e de barulho do mar, resistindo sabe deus como
ao vento.

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