23.1.16

retroescavadora

sou uma flor vermelha e preta silenciosa de
amor deslocado. nunca penteei o cabelo, algumas
pessoas dizem-me que gostam dele assim.
não confio nas pessoas, não tomo por verdadeiras as
coisas que me dizem. a verdade é o tabaco a
fazer com que as engrenagens da minha alma
se movam, ainda que à custa da destruição
e da morte do corpo. sou uma flor pisada e
magoada de amor desperdiçado, vermelha e preta,
encarnada e negra; no meu sangue há
óleo e álcool, há corantes e conservantes,
há formaldeído e cianeto de hidrogénio.
sou eu quem fala, quem ri sozinho, doente, no
meio das mulheres nuas, na casa de putas;
sou eu quem grita, quem fecha a porta do
texto às palavras que, de flor, não têm
nada. vejo-me uma flor vermelha, preta, um
peixe prateado reflectindo relva e ar.

No comments: