8.10.12

narcolepsia e um piano desafinado

talvez devesse primeiro
perceber que o amor
são uma data de frases
sem sentido - o amor são
uma data de frases e nenhuma
delas leva a lado
nenhum. talvez, com a voz
a cheirar a vinho, a aguardente,
devesse imaginar-nos sob
um candeeiro, dentro de um
filme, dentro de um livro,
com uma chuva, um nevoeiro,
e dizer-te "não te sei amar pouco,
não sei ficar a teu lado se não
sabes dizer que me amas, se não
sabes que para sempre existe".
nos livros podemos dar-nos
ao luxo da injustiça, podemos
imaginar que o amor é
isto ou isso ou
assim. talvez devesse primeiro
apanhar insectos com os dentes
e guardá-los em frascos,
a boiar numa solução aquosa
em que grande parte seria
alcoól etílico, dedicar-me a
estudar os números e os corpos,
as cabeças, "isso és tu a compensar
porque, em pequeno, não te deram figos
quando pediste, não te deram o colo
necessário, não te foderam
no cu."
primeiro perceber que a vida
arranha menos quando vivemos
menos porque o amor - esse
animal - são só frases e nem
sequer querem dizer nada.
morder insectos e tirar restos de
asas de entre os dentes, hoje
não sei amar menos e o sol
incomoda-me os braços.

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