2.10.12

1978

tenho em conta os anos que passaram.
não há nenhum botão onde se carregue,
existencialmente falando, para, por
exemplo, baixar o volume quando
se grita um ruído que poderia ser um
nome, poderia ser o meu nome,
mas soa só a crude, a gaivotas
expirando nas margens da água
atlântica, cobertas de preto e de
visco, na televisão. mas ninguém
tem pena dos nomes sujos de petróleo
num oceano de barulho e de pétalas,
é mais fácil permitir a compaixão
por gaivotas e peixes e outros animais,
porque, a esses, vêem-se-lhes os
olhos, tudo morto ou num pânico
de oxigénio. mas no vácuo dos
ossos também há marés negras e
também cheira a ferrugem e a sal.

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