27.3.13

doença em Santiago

"quero trair-te amanhã. convidar um destes homens
que passam na rua, recebê-lo em casa, deixá-lo
chamar-me de puta, de cabra, de vaca. olha, pedir,
mesmo, pedir que me chame nomes, que me foda
o cu, que me bata com força nas costas, nas
pernas, nas nádegas. estou cansada de ti, de
nós, de conversas e de cafés. de ter de tomar conta
de ti e de mim ao mesmo tempo. nesta cidade
estranha há-de haver um homem que me queira.
um homem a sério, não uma coisa como tu,
querido. amanhã vou trair-te quando saires para
ir ver museus, tomar cafés, apaixonares-te
pelas mulheres iguais a mim nos cafés. e não
te hás-de importar que te traia, não hás-de
querer saber, mas agora sabes. sabes que odeio
as tuas fodas lentas e carinhosas, a tua
meia-hora de minetes, a tua ineptidão física
quando me puxas o cabelo com os braços,
às vezes a incapacidade ridícula de pores a
pila na cona à primeira, odeio o teu olhar
de encanto, como se estivesses sempre a ver
o meu corpo pela primeira vez, o cigarro
irritante a brilhar no escuro, a descer pelo escuro
sempre que acabamos
de foder. não estou mais para isto, meu amor,
mereço melhor, mereço um homem, amanhã vou-te
trair e até gostava que levasses a mal, mas
sei que não queres saber, porque nunca falamos
de culpa mas a culpa, em ti, há-de ser sempre
minha."

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