9.7.13

leitmotif

leva-me a sério.
leva-me, a sério.

lava-me. sonhámos com
lavagantes de loiça nas paredes,
estamos tão kitsch, antiquados,
guardados. a sério.
lavamos lavagantes
levamos a sério
o kitsch dos lavagantes
lavados e brincamos às
escondidas enquanto é
tempo, as cerejas rebentam
na fruteira por cima das
ameixas vermelhas (um dia
o meu avô escreveu "ameicha"
já estava senil nessa altura).
lava-me na cerâmica,
diz "cona" sem medo,
"a minha cona é quase
de cerâmica, não tenhas
medo" (consegues
escrever tantas obscenidades
aqui e há quem diga que
isto é poesia?) (não
sei se há quem diga que
isto é poesia, herdei a
senilidade do meu avô,
a hipertricose auricular
há-de vir com o tempo,
se não morrer primeiro
como as cerejas que
explodem ao sol).
lava-me na cerâmica como
fazes aos lavagantes quando
os levas a sério.

olha para mim quando
atravessares a estrada,
diz-me adeus, muito a sério,
toma conta de ti quando
te fores embora.

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