4.9.13

seráfica

agora, que dormimos, arrastemos a intempérie
nas plantas dos pés. sabemos o lugar da cassiopeia
e de orion no céu, cartografemos, pois, as
estrelas; temos estes corpos que amadurecem
mas não duram um milénio, cobrimo-los
de gaze e de ervas secas. decoramos o
sítio das estrelas e dos oceanos, dos rios. e
dormimos, que o corpo pede, e dói-nos a
cabeça. arrastemos o vento e a chuva
nos pés, o lugar da intempérie é lá fora; agora
que dormimos e sabemos o nosso nome, onde
ficam os mares, as ravinas, os precipícios.
os nossos corpos amadurecem e crescem
para nada, quanto custa sermos só isto na
ingenuidade tremenda, na ignorância,
conhecemos o céu, o sítio das coisas,
a arquitectura da solidão e a filosofia e
o amor, onde tapar as feridas com a gaze
e onde aplicar os lábios. agora, que dormimos,
chamamos as coisas pelos nomes,
caminhamos nus em direcção aos rios
desconhecidos, evitamos as ervas secas,
os cavalos correm no escuro, esmagam-nos
o tórax. arrastemos a cartografia das cidades
das estrelas dos mares.

No comments: