4.9.13

recepção #8

vou no 3, a ler Anton Tchekhov, O Duelo,
no capítulo três, e é fácil e não é fácil.
estou doente, dói-me a cabeça de tantos
mecanismos que são necessários, estou doente
de amor noutra época e nunca agora,
penso na doença, vejo-a, está dentro dos
dentes e dói, o Tchekhov está no capítulo
três, não te esqueças, fechado sob o
cotovelo esquerdo - o cotovelo não está doente,
só a cabeça, a boca, o fígado. tantos
mecanismos necessários, as pulseiras não me
ajudam a sobreviver e no entanto não
saio de casa sem elas. era capaz de amar,
acredito que era capaz de amar; talvez o
melhor fosse não o saber, ter só uma
doença e esperar numa cadeira com o
Tchekhov fechado no colo, a doença dos
russos nos dentes, queria estar doente debaixo
de água por minutos, sozinho, queixar-me
por estar a morrer, ao menos era capaz
de amar no escuro, numa cadeira, confortavelmente
sentado sem precisar de comer, de falar.
"valho sozinho, todos devíamos aprender o valor
de nós sozinhos no amor de nós mesmos,
amar os outros é um desperdício." era capaz
de amar uma mulher sem me cansar, nunca
me cansei, mas agora estou doente, dói-me a
cabeça e era agradável que os outros se calassem.

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