2.10.13

livros sobre a secretária que, não o sendo, é uma mesa-de-cabeceira

somos poucos, já. bebemos tinto pelos gargalos
das garrafas, fumamos, partimos os vidros contra
o chão. somos tão poucos, somos tão pouco. a
psicóloga disse-nos isto e aquilo (a psicologia é
coisa de mulheres, o Freud é coisa de mulheres e
isso não é bom nem é mau, é o que é, séculos
disto, séculos de secularismo, desta coisa tão
patriarcal e elas têm de se agarrar a alguma coisa
para além do que é o que se vê o que se toca
o que se sente) nada fez sentido absolutamente
nenhum porque a psicologia é um artifício assaz
insuficiente para a religião. já não chamo por deus
à noite e não choro porque os meus pais vão
morrer, no escuro, na cama, porque sou adulto
e pressupõe-se que agora deus está morto e
que os pais são artifícios insuficientes dos quais
precisamos de prescindir. não tenho, nem nas mãos
nem nos olhos, a capacidade para viver e não
me apetece sobreviver. apetece-me deus e apetece-me
segurar no colo a cabeça de alguém que me
diga que não vai a lado nenhum, nunca.

e o Freud pode explicar isso o que quiser.
prefiro o que diz o Kafka.

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