16.5.14

tinteiro de impressora

noutro dia, talvez, hoje já não. tirar esta
folha do caderno, lambê-la, pôr-ta na mão,
"eis a minha boca, a humidade porca da minha
saliva, a verdade bacteriana que se me solta
dos dentes. este sou eu e quero que me entres
pelo corpo; onde não nos conhecemos preciso de
ti, ou, na idade, na beleza das construções
poéticas, num suposto domínio da linguagem,
preciso-te." preciso de ti, quero escolher-te,
arrancar esta folha que no outro axioma
tem um poema com o teu nome, tem palavras
desperdiçadas no discurso da ideia das tuas
mãos. dou-te as mãos mas não esta folha,
só que a intenção das minhas mãos perde-se
sem o papel. um dia trago-te centeio para
um pão, mas hoje noto que já sabes no silêncio.

1 comment:

Unknown said...

Há poemas teus que são esculturas de luz. Coisas a ganhar vida que ainda vão dando sentido às coisas.
Obrigado por escreveres tão bem.