25.11.14

Santo Agostinho

ter tempo nas mãos e tantos livros acumulados para ler, a envelhecerem
ao jeito de fruta, de roupa, mas não fazer nada com o tempo porque o tempo
afinal
inexistente, uma invenção dos homens para explicar mais ou menos as
deslocações no espaço. não fazer nada com as mãos na falta de uma
inclinação mais prática e física, tamborilar os dedos nos tampos das
mesas dos cafés e das tascas, ler dá trabalho, escrever dá trabalho
embora não devessem. observar o movimento dos caracóis e das
lesmas nos degraus das escadas da casa, era tudo mais fácil se
fosse mulher, se tivesse amigos, se não tivesse feito carraças
esvairem-se em sangue, espetando-lhes alfinetes quando era criança.
ter uma garrafa de vinho vazia para me queixar às pessoas de não
ter dinheiro sequer para vinho barato e ter o Howlin' Wolf
incessantemente a tocar num gira-discos, o vinil riscado de modo
a que seja mais literário fazer essas analogias estúpidas com a vida.

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