7.1.15

Andróide

viveria num sítio urbanizado mas não
em excesso e operaria uma editora de
poesia (em minúscula) e iria aos cafés e
às tascas porque a vida, ao fim e ao
cabo, é
ir a cafés e a tascas e a boticas e a
mini-mercados e a restaurantes e
a casas de pasto. rodear-me-ia de velhos
e de coisas antigas, ouviria ópera no
barbeiro quando, de seis em seis meses,
fosse sendo altura de cortar o cabelo.
"não mexa na barba, um editor de
poesia deve ter barba." o barbeiro
concordaria, "todos os homens deveriam
ter barba", e baptizar-me-ia com
pó-de-talco, o meu crânio um
rabo assado de bebé, mas noutra
extremidade do corpo; sacudiria
os cabelos e as palavras do mesmo
modo que as mulheres sacudiam o
cascabulho dos pêros do seu colo
para o chão e,  de seguida, para dentro das
bocas dos animais.
habitar um lado de vida mais perto do
que importa, preferencialmente com dinheiro
bastante para tabaco e café.

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