8.1.15

dentes

abre devagar a boca como se te
interessasse beijar-me, como se
acreditasses que é possível que
nos beijemos apesar de tantos
quilómetros, de tanto ar com coisas
pelo meio. quando te lembrares
de mim envia-me uma árvore,
dá-lhe um nome e envia-ma pelo
correio, com aviso de recepção,
enche-a de palavras e de gestos
ternos. pendura-me uma centopeia
na orelha quando falares, muitas
vezes lembro-me de ti de um modo
esquisito, como se o amor tivesse
acabado, muitas vezes somos
um par de animais demasiado
humanos para nos ralarmos com
qualquer coisa mais do que só
a fricção geométrica dos corpos, por
vezes bebemos demais e fingimos
de forma insuficiente que isso
chega. as minhas mãos não
chegam, não atravessam quilómetros,
não rasgam o silêncio quando a tua
boca ri muito alto longe daqui.
desenhei-te um cão numa folha
quadriculada, deve chegar um dia destes.

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