13.12.15

electrónica

o relógio em dezembro à noite incessante mas lento
debaixo das escadas com o tempo todo para não fazer
nada a atirar pedras de carvão para dentro de vasos
sem terra a pensar nos incêndios que se atearam há
tantos meses a pensar na morte de pavões dentro de
contentores uns guinchos tristes de mamífero nos contentores
aves soando a mamíferos por causa das úlceras e da
morte
é tão mais fácil falar da morte tão mais simples tão mais
bonito no contexto poético da depressão que todos procuram
ler

a minha filha é livre de morrer abraçada a um pavão num
contentor de ser encontrada pelos homens às cinco da manhã
no meio de lingerie usada e jornais de há tantos meses

a minha filha nua
um copo de água
uma aspirina
o lado esquerdo
do corpo
todo
apanhado
debaixo das escadas com o tempo todo para não fazer
nada para além de atirar pedras de carvão contra os pavões
rir muito alto bater com as mãos nas paredes cantar
coisas de que já ninguém se lembra
inventar histórias às velhas e acreditar em todas as mentiras
que se dizem

a minha filha na água
com uma aspirina e os
pavões
chorando petróleo
guinchando
na solidão
no tempo
no lugar
no modo

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