3.12.15

quadrado #8: telefone

T.

lavo as mãos com a água mais fria que existe; és uma imagem distante,
um rio de sangue menstrual em cima da cabeça de uma boneca, no chão
de uma mata, tudo misturado com folhas e terra. vejo as tuas pernas
despidas ao longe, de trás, nas fotografias. vejo um cancro de luz
a destruir-me o tórax a partir de dentro, tenho fotografias com que o
atestar. a preto e branco.
lavo a fruta com a água mais fria que existe, levo-ta à boca com os dedos
mais gastos que tenho, podemos comungar isto, pelo menos: a menstruação
nas fotografias, os frutos, os cabelos, as pernas, as nádegas.
enxaguo as palavras no gelo da água; conto-as, estendo-as ao sol, seco-as
e só depois tas entrego, deito-as no teu colo esperando que importem,
que tudo isto sirva um desígnio, um propósito.
caminho no chão onde fotografaste a cabeça de uma boneca sobre as folhas,
ando sobre a memória do sangue menstrual, espero que alguma
estrada me leve até onde estejas; gasto todo o tabaco antes do tempo,
o tempo, o tabaco
deviam ser gastos onde as tuas mãos lavadas levassem à boca um copo
de leite sem lactose.

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