7.4.15

sustentáculo

poemas em alemão no café segurando o livro de forma a que
os outros possam ver o título cavernoso, autotélico, escondido,
com as pernas cruzadas e a certeza de vir a arranjar uma
mulher destas práticas, com cursos de engenharia e relações
públicas e psicologia e matemática para me conduzir na
minha característica absurda de não ter carta nem carro
nem curso superior nem emprego e de não pretender nada
disso;

fingir apenas um fulgor uma indignação porque "a sociedade
está tão mal organizada", chorar no colo de uma mulher, cheirar
o colo de uma mulher e esperar que organize tudo para mim,
que me sustente o ócio, forçar a vergonha de uma vida em
vão para outro sítio recôndito e presumir que esta poesia
é tão boa que qualquer mulher ou qualquer homem teriam
tanta sorte em me amar em me proteger, prometer coisas
que nunca poderei cumprir e crescer inversamente, o fígado
nunca mais colapsa de tantos anos de álcool, os pulmões
nunca mais adoecidos, negros, raquíticos;

contar que se possa amar também um empregado de uma
pizzaria de franchise internacional que receba o ordenado
mínimo e eventualmente deixe de escrever por completo.

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