16.7.15

sova de cinto

anos oitenta, quarto com vista para a praia, sete
e quarenta e cinco da tarde, junho. tenho a
televisão ligada, que vai começar o telejornal
entretanto; tenho a rádio ligada mas não ouço
nada. há duas gaivotas pousadas no parapeito da
janela, um carro parado em frente ao café
do outro lado da rua há mais de dois dias.
encho um copo com água da torneira, vem
a saber a lixívia porque é terça-feira e a
água sabe sempre mais a lixívia à terça. é
só para tomar um ben-u-ron, um panadol,
qualquer merda que me alivie a cabeça dos
anos oitenta, das gaivotas, das mulheres que
foram deixando peças de roupa pela minha casa.

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