28.12.12

o manidade

a televisão a desperdiçar-me
as noites, a saliva no braço do
sofá diz-me "sono" (grita-me
"SONO") mas a incapacidade
de fazer o que quer que seja
porque esta era é uma era de
anti-depressivos e de televisão
e de distância. as mãos lavadas
seis vezes com água quente
porque faz frio e porque prefiro
o cheiro do sabonete de
glicerina ao cheiro do tabaco -
nas mãos cansa o tabaco.
a televisão enfia-me anjos
electrónicos/eléctricos pelos
olhos dentro e o tabaco
enfia-me pregos de uma
morte minúscula nos pulmões
nas veias nas artérias na
electricidade do corpo para
que também eu me torne um
anjo mais próprio mais em
comunhão com as coisas certas.
seiscentos e sessenta e seis
litros de mim são amor.

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