22.5.13

la mort de l'auteur

não sei porque espero ainda
(talvez seja da altura do ano
e de ver nisto uma efeméride)
que surjas de novo quando
me sento sozinho ao sol junto
ao muro com as marias-café
e os bichos-de-conta - tudo
animais que se enrolam em si
mesmos - que caminhes ao de
leve sobre a relva com os pés
descalços e abras a boca na
minha direcção que me atires
a tua voz na minha direcção
(julgo não me lembrar sequer
da tua voz) e que me dês
frutos vivos de mãos de unhas
e que dobres as costas no
fim do meu cigarro do meu
desespero cancerígeno. e
ainda espero mesmo que saiba
mesmo que tenha toda a
certeza de que devia ter só
guardado as tuas fotografias
envolvendo os ossos e a
proteger-me da sombra longínqua
que os amigos deixam contra
o corpo. "a vida é assim" ou "a
vida é isto" e deve-se continuar -
o corpo continua sozinho sem
notar que continua sozinho é
como um planeta que funciona
porque funciona e mais nada. e
um pouco de mim está neste poema
e sei que me terias dito quando
era tempo de mo dizeres que
devia ser sempre assim em tudo
o que escrevo.

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