9.4.14

cigarro húmido

tão injusto nunca ter falado com a minha mãe num
poema onde me proteja do metal em brasa do mundo,
um poema onde me mande dinheiro num envelope,
"toma, eis o amor como os olhos de um peixe
no meio das lascas de gelo, nos supermercados."
a minha mãe com tantos segredos no útero cansado,
com as mãos fechadas, doentes, e os miúdos loucos
como ovelhas chamando-a no páteo. eis o amor como
flores horríveis, dentro de jarras sem água.

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