24.4.14

leonor

és uma pedra de enxofre que assenta na mesa onde
comemos almoços e jantares e os teus cabelos tocando
nos alimentos, emprenhando-os, "voltai aos fornos e
aos fogões de onde viestes, tendes dentro de vós a
progénie dos meus olhos, dos meus dedos esguios, dentro
de quinze anos haveis de parir titânides inférteis."
e tocas piano como um animal doente de cio e de
noite, dizes "titânides", só dás titânides onde tocas,
a pedra dos teus lábios tantos anos depois, "isto
sobrou" - colocas os joelhos no chão, onde haja relva e
plantas, apontas a púbis e sorris e informas "relva e
plantas, água." já se foram embora tantos anos,
não há gavetas com as tuas meias e cuecas em
minha casa e devia haver.
parimos titânides, deuses ancestrais, mentiras mitológicas
do que nos convencemos ser amor. estavas coberta
de água do mar e ainda assim tocavas piano,
cansada, farta, "não sei fazer arte, não me peças
como." falavas uma pedra de tabaco, eu era um
neófito, um albatroz cego, cheio de fome de espinhas,
berrando "relva e plantas, água", sem emprenhar titânides.

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