28.4.14

ervas para pães ázimos

a minha mãe é um esqueleto conduzindo uma mota que
devia estar num museu
no méxico em estradas onde ninguém passa à excepção
dos mortos e dos velhos
pois os velhos são quase mortos já vestem a roupa
de quem come à mesa dos que faleceram já falam
essa língua silenciosa com a boca inchada de ar
escaravelhos terra água vermes
a minha mãe pára pelo caminho e cozinha tijolos
em fornos e diz
«construam fábricas e abandonem-nas passados oitenta
anos para que no futuro os vivos recordem as
vossas palavras e os vossos nomes.»
e a minha mãe come as raparigas bonitas no
pó e a mota devia estar num museu mas move-se
o motor ainda a empurra na doença e no amarelo
que não é a cor preferida da minha mãe mas
era a cor preferida da mãe da minha mãe e a
minha mãe escreve um poema de dentes de vermes
e procura a sua mãe que mesmo viva já via
o que os mortos vêem já escutava os mortos
quando o padrasto da minha mãe junto das margens
do rio tejo em cacilhas se acometia ou pelo menos
uma pequena percentagem de si uma âncora de
cobre enterrada no forno da mãe da minha mãe
para cozinhar tijolos de cancro de ossos de nervos
e a minha mãe nos cactos com um poncho sem
saber como beber o álcool nos copos baços.

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