11.6.15

nome

a minha boca ardendo de uma comichão, uma tensão,
uma tesão,
uma piça dura, invisível, indizível,
os meus olhos arando terrenos vastos, as raparigas correndo
na rua à noite,
vou só deixar-te aqui uma carta na caixa do correio
rindo à noite e tudo tão afastado das coisas que fazem
sentido,
os meus dedos morrendo, dobro-os, olho as unhas, os lados,
está tudo amarelo, castanho, manchas pelos dedos fora
como os dedos dos mendigos que apanham beatas do chão
e do lixo e as raparigas rindo, fugindo, o sangue dentro delas
mas eu já com nenhuma que sangre, já não posso
querer nenhuma mesmo que sangre,
uma comichão, uma tensão na boca, entre os dentes, no
espaço dos dentes cariados, o ar muito pesado por entre
os dentes, a apertar, a laringe inchada ou só uma
impressão, um cálculo nervoso errado.
os meus olhos arando a boca presa aos dentes contra
o chão mole da fazenda dos meus antepassados,
quantos dos meus antepassados se terão suicidado quando
a vida lhes pesava e apertava o ar na boca?, quantos não
terão conseguido trabalhar a sobrevivência e
o conformismo, para quantos tudo subitamente pequeno demais
não chegou para tapar a solidão e os espinhos secos da angústia?

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