13.3.14

ana

na casa que não temos estás junto ao televisor e
convém dizer que as tuas omoplatas são um
terreno onde se podem plantar fios de pesca, onde
lavrar poemas pendurados de luzes (talvez
prefiras "luminárias", lanternas, complicações de côr?).
numa caixa de sapatos guardamos
a) três bichos-de-conta
b) duas marias-café
c) duas lagartixas
está tudo nas tuas omoplatas, no teu rosto calmo
oferecendo um sangue, perguntas e escuto ou
finjo (menstruação?). o meu caminho é uma
lâmina de possibilidades cerâmicas, é um silvado
que se apara a custo com unhas e dentes. na
casa fazes perguntas, as costas metaforicamente
nuas, nua és uma substância ideológica indescritível,
és um trabalho de roseiras e de silvas espessas
que dão amoras. planto fios de pesca nas tuas
costas para depois colher nylon, vendê-lo-emos
em armazéns devolutos, roxos de asfixia, montamos
eclipses solares, fazemos resumos de clássicos
literários e tu ris e pronto, és um violoncelo
em erupção na boca. és uma saliva de café e é
mesmo triste que esta casa não exista, que se
resuma a uma caixa de sapatos com sete bichos
dentro e uma cassete onde gravaste o tabaco e
uma folha de um legume, onde cantaste blues noutro
século, um que não podemos prender nos fios de pesca.

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