11.3.14

quarto 116

a) van zeller, paciente #1

a psicologia prende-o ali, a psicologia, essa besta, esse
animal tão terno, sem dentes, as gengivas tentando
trincar, prensar o coração. a psicologia são
livros apontando, são dedos que dizem "eu ajudo",
e está ali na divisão, na matemática, com os
lápis-de-côr e uma melódica porque a música é
terapêutica, a arte aponta com os dedos mascarrados
de azul (mascarrado é preto, nota isso, ou uma
variação espectral dentro dessa). ele sorri, ele sabe,
ele viu e tocou no coração das coisas com a
língua, mordeu com os dentes, a psicologia é
um lustre decorativo cheio de pó.

b) rodriguez, paciente #2

no jardim chamam-me pelo apelido, sou um militar
da loucura, defendo-a, milito-a, sou seu militante, luto
por ela, os meus dentes estão podres, amoleceram
(podia dizer que roí sóis de verdade, sou louco,
dêem-me um desconto, m dava-me descontos,
deixava que a fodesse, que lhe apertasse as mamas
enormes, descontava-me o sexo, a língua)
dos medicamentos, do resto de tabaco que me dispensam
como se chegasse - rio-me, não chega, é óbvio que
não chega nunca -, dizem o meu nome, finjo que
não ouço, que não o reconheço, a psicologia aponta-me
e deixa-me ser uma mão que não toca a púbis.

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