13.3.14

tabuleiro: proxeneta

onde foi um quartel dos bombeiros e depois um armazém
é agora uma casa de putas e à porta uma mulher
de cabelo asqueroso, oxigenado, com as raízes a
sobressair no fulcro do amarelo-branco, um alcatrão
no percurso da cabeça, uma verdade de nojo na luz
falsa do resto, descasca uma maçã encarnada e olha
os pombos com a precaução de quem ganhou o
dinheiro para o fruto, ela tem a propriedade do
fruto, embora o debulhe com a navalha e dispense
a pele e os caroços - empecilhos alimentares que podem
ficar para os pássaros. tem as pernas abertas
porque vale mais que um homem e sabe-o, a um
nível básico sabe que vale mais que os homens,
pode escarrar e assoar-se no vidro da idade porque
os homens precisaram daquilo que tem e eles não,
por uns contos de réis. escurece onde foi o quartel
menos o branco-amarelo do cabelo e o pêro debulhado
e os pombos, que são putas aéreas sem se
preocuparem com o egipto ou com o japão ou com
as putas, roubando os cascabulhos, fugindo, as
pernas escancaradas da puta não lhes dizem nada,
são alheios a isso, despejando só as tripas no céu.

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