12.3.14

ruínas

por entre as traves de madeira,
no chão, um telefone velho,
desligado, silencioso, e ao
fundo a balança antiga, rente
à parede, sobre si os reflexos
opacos dos homens movendo
pesos numa barra graduada
de metal, pesando batatas.
nos destroços do tecto não
caminha ninguém, não há
ninguém. ninguém pode
funcionar como pronome
indefinido, concordemos,
não é um bom substantivo,
no entanto. ninguém não
tem substância, é um nome
que define uma respiração
num lugar vazio, uma forma
onde não há espaço onde
tactear um corpo. este
telefone não recebe nem
faz chamadas, é um altar
nos escombros, um sacrário
para que ninguém possa
dirigir orações a quem, de
direito.

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